PARCERIA FAMÍLIA X ESCOLA: A IMPORTÂNCIA DOS VÍNCULOS AFETIVOS PARA A CRIAÇÃO DOS NOSSOS FILHOS
Na Parceria Família X Escola desta semana trouxemos para vocês um excelente artigo da escritora Isa Minatel que é autora do livro “Crianças Sem Limites. O texto, publicado no blog Educação e Empreendedorismo, nos mostra a importância de criarmos vínculos afetivos fortes nos primeiros anos de vida de nossos filhos, a importância de desaceleramos um pouco porque não há conquista maior nesse mundo do que criar um filho físico e emocionalmente saudável.
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Confira aqui o artigo:
Hoje meu filho de 5 anos disse, na hora de dormir, que queria que eu deitasse com ele. Nada novo abaixo do sol… Só eu!
Enquanto estava ali, deitada ao lado dele, senti sua mãozinha nas minhas costas e perguntei:
– O que foi, amor?
Ele disse:
– Só estou te fazendo um carinho…
Eu sorri feliz no escuro e estendi minha mão que ele pegou e apertou rapidinho. Enquanto ele adormecia eu fiquei ali sentindo aquela conexão, aquele vínculo aquele momento tão corriqueiro e tão profundo e especial. E fiquei pensando…
Há 5 anos eu não conseguia fazer isso.
Tinha sido programada para fazer tudo rápido. Quanto mais rápido, melhor!
Quando me deitava ali ao lado daquele bebê esperando que adormecesse eu sentia que estava perdendo vida. Que o tempo estava passando e eu estava ali sem poder sair nem fazer nada… PRESA! Entrava num ciclo doido e doído de ansiedade o que fazia com que meu bebê demorasse ainda muito mais para dormir, um verdadeiro ciclo vicioso e insano: eu ansiosa por achar que estava perdendo vida estando ali e ele demorando mais para adormecer sentindo minha ansiedade e nervosismo. Não à toa, o “fazer dormir” foi muito tempo função oficial do super papai.
Mas, consciência traz paciência.
A maternidade me fez descobrir que eu precisava buscar informações.
E foi aí que eu aprendi que…
Os anos iniciais são os mais determinantes para o aumento das chances de ser feliz na vida de uma criança e isso tem TUDO a ver com a conexão e o vínculo que o bebê desenvolve com seus pais desde o começo da vida, que por sua vez tem TUDO a ver com a entrega no fazer dormir, por exemplo.
Aprendi que pressa não é um bom parâmetro para medir os resultados com bebês e crianças, aliás, ela pode ser um grande vilão. Aprender a respirar, a se acalmar e a desfrutar os momentos juntos, apreciar as descobertas e as aprendizagens da criança, estimular a autonomia… tudo isso se alcança com calma, com tempo, com paciência… Já viu quanto tempo uma criança de 4 anos leva para abotoar a própria camisa de 4 botões? O meu levou quase meia hora certa vez… É preciso começar antes quando se decide educar protagonistas… Antes na vida (desde bebês) e antes na hora de sair (para dar tempo de as crianças fazerem as coisas por elas mesmas) já que fazer por elas é muito mais rápido, prático, limpo, organizado e econômico. Mas aí o protagonismo é nosso e não delas. Assim como a autonomia.Aprendi que as maiores coquistas que podemos ter na vida estão nos nossos filhos. Podemos superar qualquer coisa que dê errado em nossa existência mas um filho que dê errado jamais superaremos. Ficará para sempre ecoando em nossas mentes as questões “onde foi que eu errei?”, “o que poderia ter feito de diferente?” ou os lamentos “ah, se eu tivesse sabido isso antes…”, “ah, se eu tivesse dado mais atenção a elx…”
Aprendi que as crianças perdem o interesse rapidamente por objetos novos… Mas elas demoram muito anos para perderem o interesse por nós, suas pessoas principais, seus adultos de referência. Elas estão sempre lá chamando a nossa atenção, procurando nosso olhar, nossas palavras, nossa interação, nosso carinho… Nem sempre fazem isso através de comportamentos desejados… Pois já perceberam que, muitas vezes, conseguem nossa atenção justamente com maus comportamentos e até com doenças…
Aprendi que o que os adultos consideram importante, nem sempre é o mais importante de fato. E que o que a criança considera importante pode ser revelador para nós. Na nossa cultura acostumamo-nos a desrespeitar as crianças, a exigir delas obediência cega que as faz negar sua própria essência. Nós as julgamos e obrigamos que sejam como achamos que seja “o certo”! E quando enfrentamos muita dificuldade com este processo corremos sério risco de medicalizar uma criança tida como rebelde, terrível e desobediente. Na maior parte dos casos ela só estava querendo ser ela mesma e querendo ser respeitada como um ser humano que é e não como alguém que deve, o tempo todo, dizer SIM ao outro e negar a si mesma. Algumas expressões comuns na nossa cultura revelam isso: “você não tem que querer nada, você é criança!”, “não porque eu disse que não!”, “nada de mas… eu já falei!”, “eu disse A-GO-RA!” e assim por diante…
Aprendi que o nosso mundo não está mesmo preparado para ser bom com as crianças… Que elas não alcançam as pias e privadas, que elas precisam pedir socorro para sair de seus berços quando desejam, que elas não podem nem se alimentar ou se servir de água sozinhas na maior parte dos lugares por não terem acesso. Não são bem-vindas no ambientes profissionais e nem na maioria dos ambientes “de adultos”.
Aprendi que crianças punidas tornam-se adultos que punem, que crianças ameaçadas tornam-se adultos que ameaçam, que crianças desrespeitadas tem o desrespeito como normal, que crianças agredidas física ou verbalmente terão muito mais dificuldade para promover um mundo de paz…
Aprendi que devemos mesmo tratar as crianças com mais cuidado pois elas são feitas de sonhos e expectativas e que nossa principal função é não obstaculizar a descoberta de cada uma da sua própria missão de VIDA.
A consciência me trouxe muita paciência. Como eu nunca imaginei ser capaz de ter.
Consciência traz paciência.
Isa Minatel é autora do livro “Crianças Sem Limites” que você pode conhecer aqui: https://www.chiadoeditora.com/